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Autoconhecimento: realidade ou utopia?

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Duas experiências recentes me fizeram questionar se o que hoje acredito, defendo e vivo é realmente exequível e como. Isso me levou a reviver meus antigos padrões comportamentais e mentais e especialmente querer encontrar uma forma de facilitar a vida de todo mundo.

A primeira experiência foi no evento Agora é que são Elas, sobre empreendedorismo feminino, em que compus o painel "Vida e Negócios em equilíbrio". Fala frequente entre várias das painelistas é do quanto empreender muitas vezes implica dedicar praticamente todo o dia, de manhã cedo até tarde da noite, ao empreendimento.

A segunda experiência foi com os meus alunos da disciplina de Autoconhecimento e Felicidade. Numa das avaliações pedi que esboçassem uma proposta de rotina com o objetivo de tentar implementá-la ao máximo possível nas suas vidas. Tal rotina deveria conter melhorias considerando a atual rotina deles e, conforme sentissem, as técnicas que aprendemos no decorrer do semestre. Aqui também o mais comum foi constatar o quanto para muitos o dia está completamente preenchido com trabalho e estudos da manhã à noite.

Por mais que hoje em dia minha rotina seja bem diferente, conheço bastante esta realidade. Desde que comecei a estagiar, ainda quando estudante do curso de Direito da UFSM, praticamente todos os dias meus três turnos eram ocupados com compromissos. Como advogada e depois especialmente como professora em cursos de Graduação e Pós-Graduação em Direito, trabalhava o tempo inteiro, inclusive finais de semana. Quando conseguia fazer as refeições, era sempre na correria. Era uma batalha achar tempo para as compras de mercado e cuidar da casa. E tempo pra mim? N..e..m....p..e..n..s..a..r!

Apesar de ser apaixonada pela sala de aula e pelos projetos que, como Coordenadora Institucional de Pesquisa e Extensão da FADISMA, criava e desenvolvia, a vida começou a ficar cada vez mais cinza. Fazia tanta coisa com sentido dentro do que acredito para a educação e a sociedade, mas a MINHA vida parecia estar perdendo o seu próprio sentido.

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Recebi um chamado (um dia eu posso contar como foi isso) para o Yoga, mas nem isso, que nitidamente me fazia tão bem e transformava a minha semana, eu conseguia sustentar. Era sempre tanta coisa pra fazer que eu não achava tempo para nada mais.

E como consegui sair disso? No meu caso, teve que ser pela via radical. O auge do estresse, cansaço e falta de sentido me fez pedir uma licença não remunerada da faculdade. Mas hoje acredito que há vias menos drásticas. Afinal, desde lá tenho buscado reconstruir minha vida tendo como prioridade a minha felicidade e bem-estar. Até porque tudo depende disso, inclusive o meu sucesso financeiro e capacidade de ajudar os outros.

O estilo de vida que acabou por se consolidar na nossa sociedade é absolutamente doentio, anti-natural e despotencializante. Por acaso alguém discorda disso? Acredito que nem quem supostamente lucre com este estilo de vida, tendo acumulado bens e status, esteja realmente feliz. O que há são pessoas que conseguem comprar mais ou menos momentos de felicidade através da satisfação momentânea de desejos, como os da alimentação, festas, compras, viagens..

Mas a verdadeira felicidade, aquela que não acaba quando o jantar termina ou a viagem acaba, depende de ousarmos e nos desafiarmos inverter a lógica que prioriza o fazer e ter e não o Ser.

E como isto se dá na prática? Podemos começar avaliando aonde vai o nosso tempo para, na sequência, classificar tudo o que encontrarmos entre o que é indispensável e aquilo que é dispensável. Por exemplo: é dispensável você acordar e olhar as suas redes sociais, o que, certamente lhe consome alguns bons minutos. Também não deve ser sua prioridade cuidar excessivamente da limpeza e organização da casa, sendo suficiente mantê-la em condições agradáveis (falo isto porque muitos de nós - até pouco tempo eu também - exageram nesse quesito). Você pode se organizar para fazer compras em feiras e/ou supermercados poucas vezes no mês. Que tal tomar banho um pouco mais rápido? Quantas horas você realmente precisa dormir?

E que tal se amar e se cuidar um pouco mais e NÃO se exigir dar conta de tudo aquilo que sua mente lhe convence ser seu dever? Evitar, por exemplo: dar atenção para todos os vizinhos e amigos que lhe demandam, resolver todos os problemas da família, dar conta de tudo o que seus chefes lhe pedem, cuidar da natureza para além da sua capacidade, fazer tudo com o máximo de perfeição...

O tempo que sobrar você coloca em cuidar de você naquilo que lhe é mais básico. Uma alimentação saudável e feita com tranquilidade. Tempo para estar com as pessoas que ama. Tempo para se presentear com momentos de lazer. E tempo para cuidar do seu mundo interno, com práticas de silêncio, contemplação, presença, meditação...

Comece devagarinho, conforme você for encontrando pequenas folgas na sua rotina. Com o tempo você perceberá que vai surgindo cada vez mais tempo. Até mesmo porque o simples se alimentar melhor já resulta em maior eficiência: corpo melhor nutrido, maior capacidade mental e energética, pra dizer o mínimo. Momentos de alegria ativam em nós uma forma mais positiva de ver a vida, o que elimina boa parte dos nossos problemas, fruto de mentes negativas.

E as práticas de meditação fazem aquela faxina mental e nos preservam muita energia e potência, uma vez que o maior gasto de energia e cansaço é decorrência do mal funcionamento da nossa mente.

Hoje em dia minha prioridade é meditar. Atualmente tenho tentado sustentar 3 meditações diárias de no mínimo 30 min cada. Mas quando comecei me esforçava para praticar uma vez por dia, nem que fosse apenas 5 minutos... e muitas foram as vezes que não consegui.

Todas as demais demandas da minha vida vão sendo executadas com muito maior eficiência e tranquilidade, ainda que não mais tenha a casa super limpa nem seja a funcionária ideal (para o empregador, não para a minha vida). Se antes eu me submetia em atender a casa e às necessidades do empregador, hoje sei que nem a casa nem o meu trabalho receberão realmente o melhor de mim se eu não estiver bem.

Para finalizar, quero destacar um aspecto fundamental para dar início a todo o processo de transformação - para melhor - da própria vida. É necessário que a gente saia do papel de vítima que nos colocamos se não em todos, em praticamente todos os âmbitos da vida. Não somos as vítimas nas relações com nossos empregadores, familiares, colegas de faculdade, a sociedade e a vida como um todo.

Não se deixe explorar. Não crie demandas para si mesm@. Não guie as suas escolhas pelo medo (que nos obriga a se submeter) e sim pela confiança e amor próprio.

Desejo, de coração, que, diferente de como foi comigo, todos possam despertar para uma vida com escolhas e ações mais conscientes sem precisar dos empurrões e imposições (sempre doloridos) da vida. Por que, por mais difícil ou utópico que pareça, mudar a vida é sim possível, ainda que muitas vezes precisemos ter paciência e começar bem lentamente e com pequenas ações.

Tenham um lindo e harmonioso dia!


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